Na promulgação da constituição de 1988 o saudoso Ulisses Guimarães, então presidente do Congresso Nacional Constituinte, a denominou de “Constituição Cidadã”, acabando com mais de 20 anos de obscurantismo, criando-se um novo pacto social alicerçado nos direitos fundamentais da pessoa humana. Lembro com saudades daquela época, jovem médico, formado pela faculdade de medicina da UFMG, recém-pós-graduado em pediatria pela Fundação Benjamim Guimarães, mais conhecida pela alcunha de Hospital da Baleia, iniciava minha vida profissional cheio de entusiasmo. Os tempos não eram fáceis, meu primeiro emprego, na prefeitura de BH, lotado no Centro de saúde do Bairro Gorduras na periferia da cidade, saída para Vitória-ES me colocou em contato com a desnutrição extrema (marasmo e kwashiorkor). Até hoje não esqueço as mães dando mamadeira com água e fubá aos filhos. Esse quadro cimentou a minha cidadania. A militância e consequente formação política vieram nessa época. Ali descobri que tudo depende da politica.
Bertold Brecht dizia que o pior analfabeto é o analfabeto político: “Ele não houve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o politico vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
O primeiro movimento em que participei ativamente foi pelas “diretas já”, a frustração pela não aprovação da emenda foi substituída rapidamente pelo engajamento na campanha do Tancredo Neves, enfim eleito pelo congresso de então, possibilitando a derrocada do regime militar. Nova frustração com a morte prematura do presidente, mas a vida seguiu com a posse do vice José Sarney. A chamada “Nova República” começava cambaleante, mas deixava para trás o período de trevas, já podíamos conversar abertamente sem medo. (só quem viveu uma ditadura sabe a importância disso). Entretanto o fim do governo Sarney foi melancólico, com o país vivendo uma hiperinflação, culminando com a eleição do caçador de Marajás, criado e nutrido pela Globo. Deu no que deu. Mas como dizia Karl Marx: “a história se repete primeiro como farsa, depois como tragédia”. Então veio 2016 e o golpe midiático-judicial que voltou a jogar o país nas trevas.
E golpe só se sabe como começa, jamais como termina…
Fonte: Edemar Afonso Gonçalves
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