No município com o maior rebanho bovino per capita do país, São Félix do Xingu, a implementação de SAFs na produção cacaueira é alternativa para diversificação da produção agrícola e florestal e um aliado no combate à emissão de GEE.
Em São Félix do Xingu, no Pará, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) desenvolve atividades que promovem boas práticas de produção agroecológicas e o fortalecimento da cadeia produtiva do cacau. As experiências e os desafios do trabalho realizado no território por meio do programa Florestas de Valor, com patrocínio da Petrobras, foram sistematizadas em uma série de publicações divididas em dois volumes: Sistemas Agroflorestais com Cacau – Volume 1: Conceitos e Motivações e Volume 2: Planejando o Manejo das Árvores Companheiras.
Em parceria com a Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu (CAMPPAX) e Associação de Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas (AMPPF), as ações contemplam agricultores familiares que produzem cacau em sistemas agroflorestais e contribuem para a melhoria das práticas agrícolas, maior resiliência às mudanças climáticas, desenvolvimento de capacidade técnica na juventude rural e fortalecimento de iniciativas comerciais para geração de renda e agregação de valor aos produtos.
A série descreve os princípios teóricos e as práticas de manejo em Sistemas Agroflorestais (SAFs) com cacau. “As informações contidas nos dois volumes foram levantadas durante a realização da pesquisa de campo para levantamento de dados da dissertação de mestrado do então estudante Daniel Palma Perez Braga”, explica Eduardo Trevisan Gonçalves, do Imaflora.
A série ajuda a estimular o uso de SAFs para ampliar a área de produção de cacau sem promover o desmatamento, mas por meio da recuperação de áreas degradadas, valorizando o manejo aplicado pela agricultura familiar. As lavouras de cacau são áreas produtivas e não devem ser consideradas substitutas de áreas com floresta nativa.
SAFs são sistemas onde são cultivadas plantas de diferentes características em consórcio, de forma a simular uma recuperação natural da floresta. Assim, mudas de diferentes espécies são plantadas na mesma área, incluindo culturas perenes com culturas de ciclo curto, ou seja, árvores junto com roça.
A produção de cacau por meio de SAF é uma atividade que atua no abatimento de emissões oriundas da atividade pecuária na Amazônia. Um estudo do Imaflora sobre boas práticas agropecuárias estima que cada hectare plantado de cacau orgânico permite compensar as emissões de 2,7 hectares da atividade pecuária extensiva, atingindo um balanço neutro de emissões de Gases de Efeito Estufa. Celma Oliveira, Analista de Projetos do Imaflora, reforça ainda que o investimento na agricultura familiar favorece a diminuição do desmatamento e, aliada ao cacau, uma das cadeias produtivas mais importantes da região, e fortalece a produção sustentável.
Produção
O Brasil é o 7º produtor de cacau do mundo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, mais de 25% da produção nacional se concentrou no Pará. A cadeia cacaueira está predominantemente estruturada na agricultura familiar. “O cacau tem se tornado cada dia mais relevante na vida das comunidades amazônicas, sobretudo na dos agricultores familiares. Da sua semente, após fermentada e seca, chamadas de amêndoas, pode se extrair subprodutos para a fabricação de chocolates, biscoitos, cosméticos, entre outros”, destaca Eduardo.
Por ser uma planta nativa da região amazônica, o cacaueiro encontra condições climáticas favoráveis para se desenvolver e, além disso, quando bem conduzidas, as lavouras são consorciadas com árvores nativas, transformado áreas degradadas, sobretudo pastagens, em agroflorestas – plantações que se assemelham a uma floresta.
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