Orientação é do professor da UFU, Manoel Eduardo Rozalino Santos, em seu mais novo livro
Em seu mais novo livro, “O Controle do Pasto Engorda o Gado”, Manoel Eduardo Rozalino Santos, professor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), orienta como realizar com eficiência manejo do pastejo em lotações contínuas e intermitentes.
Em outras palavras, o livro ensina como evitar que o pasto fique “passado” ou “rapado” e, também, a monitorar os pastos para obter maiores produção de forragem e desempenho dos animais de forma sustentável.
Custa caro implantar essas técnicas?
“Não se gasta um centavo”, afirma ele, cujo livro, em linguagem acessível, detalha as principais características e os fatores que devem ser levados em conta para uso do “pastejo contínuo” e do pastejo rotativo.
Além disso, a publicação destaca a importância das alturas dos pastos. Rozalino, autor de vários livros, entre eles “Seu Dinheiro é Capim”, escrito com a zootecnista e doutora em Forragicultura Janaína Martuscello, revela os princípios que estuda sobre o tema há mais de 15 anos com um objetivo: permitir controlar o pasto para engordar o gado.
Confira a entrevista com o professor Rozalino realizada pela assessoria de imprensa da Wolf Sementes com a participação de Edson José de Castro Júnior, coordenador técnico da Wolf.
Em que seu mais recente livro pode ajudar a pecuária?
“O livro trata do tema ‘manejo do pastejo’, que nada mais é do que a maneira como se pode e se deve controlar a colheita da forragem pelos próprios animais. Há várias formas e ferramentas utilizadas para isso. Se pode trabalhar com pastejo em lotação contínua ou pastejo contínuo, ou pastejo em lotação intermitente, também conhecida como pastejo rotativo.
A partir daí, escolhido o tipo de pastejo, se deve controlar a altura do pasto. Neste meu novo livro, coloquei informações atualizadas, com base em ciência, sobre como se deve proceder para o correto manejo do pastejo para fazer com que os animais expressem o melhor desempenho.”
Essa técnica é pouco utilizada na pecuária brasileira?
“Ela já é feita há muito tempo, mas muitas das vezes de forma incorreta. Trabalha-se com o tipo de capim escolhido, mas nem sempre ele é bem controlado. Ou seja, perde-se o controle do pasto: muitas vezes ele fica alto demais, ou ‘passado’, e em outras situações ocorre o contrário, quando o capim fica ‘rapado’, baixo demais.
A falta de um controle mais rigoroso dos pastos gera problemas, caso de pastos degradados, erosão e assoreamento de rios, ou evita que o pecuarista consiga resultados que poderia obter.”
Como fazer esse controle?
“Basta controlar o processo de colheita da forragem via pastejo, fazendo o ajuste da altura dos pastos. Com isso, já se obtém melhoria da produtividade animal. Às vezes esse tipo de ajuste nem sempre é colocado em prática. Se usa as lotações contínua e rotativa, mas em muitos casos sem critérios definidos com base científica.”
Custa caro fazer isso?
Não. Costumo dizer que manejo do pastejo, que é o tema do livro, é uma das tecnologias de processo e não é preciso gastar dinheiro.
Com a infraestrutura já existente na fazenda, se eu trabalhar de forma a organizar melhor a colheita da forragem, ganharei eficiência de pastejo, serão reduzidas as perdas de forragem e o pasto ficará na condição de produzir mais e com mais qualidade.
E, isso, só com alterações nos processos. Usando insumo intelectual, que é o conhecimento, se consegue ter melhorias do desempenho animal e da produção por área de pastagem.
Aliás, essas tecnologias de processo deveriam ser as primeiras a serem adotadas na fazenda, até mesmo antes de se usar insumos, até para melhorar as respostas a esses insumos.
Como foram apuradas as orientações prestadas no livro?
“O livro resulta de uma série de trabalhos e de pesquisas desenvolvidas no Brasil ao longo dos últimos anos. Buscamos trabalhos científicos desenvolvidos aqui na UFU e também em outras instituições de pesquisa.
A partir de trabalhos com vários capins tropicais, chegamos a um bom nível de conhecimento sobre manejo do pastejo, isto é, sobre a colheita da forragem nas áreas de pastagens. Reunimos essas informações de forma organizada, estruturada, em linguagem de fácil entendimento, capaz de que qualquer pessoa leiga consiga entender a mensagem.
Muitas das vezes esse tipo de informação está disponível em artigos científicos, com linguagem mais rebuscada, até de difícil entendimento.”
Dê um exemplo dessa técnica de manejo de pastejo.
“No livro, por exemplo, trato do pastejo rotativo, em que, para cada tipo de capim, tem-se, com base nos estudos científicos, as alturas adequadas e recomendadas para se manejar e controlar o pasto, tanto em pré-pastejo (alturas de entrada no piquete), quanto em pós-pastejo (alturas de saída do piquete).
Se o pecuarista seguir essas informações, controlará melhor o seu pasto e obterá os benefícios que são: colocar o animal no piquete quando o capim está com melhor qualidade, com mais folha viva, menos talo e material morto; ao encontrar o pasto nesta condição, o animal consome mais. Se consome capim com melhor valor nutritivo, terá melhor desempenho, contribuindo para aumentar a produção por área da pastagem.
Há trabalhos que atestam até benefícios ecológicos ou ambientais do correto manejo do pastejo, em termos de diminuição da emissão de gases de efeito estufa, que causam o aquecimento global.
Edson José de Castro Júnior: “Gostaria de acrescentar que uma grande prática executada na pecuária brasileira é que não se controla os pastos pela altura e, consequentemente, a degradação vem de forma mais rápida. E com isso, tem de entrar novamente com reforma, que, além de ser onerosa, faz com que o carbono fixado pela própria matéria orgânica da pastagem seja liberado pelos processos. Por fim, se perde toda pauta sustentável permitida pelas técnicas apresentadas no livro do professor.”
Comente mais sobre manejo de pastagem.
“Este é um tema bastante amplo. Manejar a pastagem é toda a interferência que o homem pode fazer no sistema de produção para mudar, por exemplo, o crescimento do capim, a colheita do capim pelos animais e a conversão da forragem consumida em carne ou leite.
Dessa forma, o manejo de pastagem engloba muitas ações, estratégias, como adubação, controle de plantas daninhas, suplementação e o próprio manejo do pastejo.
Sendo assim, o tema do meu livro – o controle do pasto engorda o gado – é específico. Ele trata de uma das inúmeras possibilidades de estratégias de manejo da pastagem, que é o manejo do pastejo.
Do ponto de vista de prioridade, é como relatado: manejar o pastejo deveria vir primeiro, quando o pecuarista quer melhorar sua produção animal em pastagem.”
E quanto ao tipo de capim? Como, por exemplo, a brachiaria híbrida Mavuno se encaixa? Seu manejo é mais fácil?
“O capim Mavuno é um excelente material. Temos trabalhos feitos aqui na Universidade Federal de Uberlândia, sem animais em pastejo, com comparações entre Mavuno, Marandú e dois outros híbridos (Ipyporã e Mulato II) na região de Uberlândia, que tem bioma cerrado. Durante o período de transição entre águas e seca, o Mavuno se destacou.
A experiência minha com Mavuno, neste contexto, foi positiva, com boa produção de forragem.
Edson José de Castro Júnior: “Se você não controlar, todo capim vai passar do ponto. Por exemplo, seria como a soja colhida na hora errada ou com o maquinário não regulado, que acarreta em perdas no campo. No caso do capim, essa colheitadeira é o gado.”
Manoel Eduardo Rozalino Santos: “Existe um princípio fundamental da produção animal em pastagem, que é a necessidade de equilibrar o que o rebanho precisa consumir com a capacidade que se tem de produzir forragem.
Se não houver equilíbrio, haverá problemas típicos, como os de período de seca, quando a demanda do rebanho se mantém, mas há pouca oferta de capim. Já na época das águas pode acontecer o contrário.”
Edson José de Castro Júnior: “Esta exemplificação explica o ‘boi sanfona’, em que fica ganhando e perdendo peso conforme a oferta de capim devido ao pecuarista não controlar o pasto por altura e não se planejar para a seca.”
Manoel Eduardo Rozalino Santos: “Ainda no caso do Mavuno, ele tem bastante flexibilidade para a época seca do ano. No trabalho que realizamos aqui na UFU, analisamos a vedação ou diferimento da pastagem.
Com essa técnica de manejo, tira-se os animais da pastagem para que o capim cresça e forme estoque de massa de forragem a ser usada no período seco. O Mavuno, pelas características morfológicas, permite prática. É versátil.”
A seu ver, qual é a vantagem das braquiárias em geral?
“É a flexibilidade. São plantas que se adaptam a uma série de condições de ambientes e também aos vários tipos de manejo do pastejo, como o ‘pastejo contínuo’, o pastejo rotativo, o pastejo diferido (vedação da pastagem). E se você trabalhar com uma braquiária de porte mais baixo, está menos propenso aos erros de manejo do pastejo. Neste caso, se o pasto passa um pouco do ponto, a própria boca do animal, quando se ajusta a taxa de rotação na pastagem, e segeralmente consegue corrigir o erro de manejo.
Não é o que ocorre com os panicuns: se passam do ponto, a boca do animal não consegue rebaixar o talo do capim e aí é preciso entrar com a roçada.
Fonte: Delcy Mac Cruz
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