Pré-hipertensão passa a ser 12 por 8 e acende alerta ao estilo de vida amazônico

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Pré-hipertensão passa a ser 12 por 8 e acende alerta ao estilo de vida amazônico

 

  • Comidas salgadas, calor intenso e sedentarismo estão entre os fatores que aumentam os riscos à saúde na região

 

A decisão da Sociedade Brasileira de Cardiologia de classificar a pressão de 12 por 8 como pré-hipertensão acende um alerta importante para a população amazônica. Na região, hábitos alimentares marcados pelo excesso de sal, o clima quente e o sedentarismo urbano criam um cenário de maior vulnerabilidade para doenças cardiovasculares.

 

Em Rondônia, esse alerta já se traduz em números. De acordo com o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), 175.678 pessoas vivem com hipertensão no estado. Entre 2021 e 2024, a condição esteve relacionada a 1.772 mortes, confirmando a necessidade de atenção à prevenção.

 

Antes, quando a pressão ficava entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9 (120-139 mmHg sistólica e/ou 80-89 mmHg diastólica), o resultado era considerado apenas limítrofe, próximo do normal. Com a nova diretriz, esses valores passam a ser enquadrados como pré-hipertensão. Na prática, isso significa que, em vez de apenas acompanhar a evolução do paciente, os médicos devem orientar mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, avaliar o início de tratamento preventivo com medicação.

 

Para o médico de família e comunidade Evandro Rios Soté, coordenador do curso de medicina da FAMEJIPA, a alteração representa um avanço.

“A nova classificação que considera 12 por 8 como pré-hipertensão permite identificar riscos mais cedo. Antes, muitos pacientes eram considerados normotensos e só recebiam acompanhamento quando a pressão já estava elevada. Agora, conseguimos intervir precocemente, principalmente com orientações de estilo de vida, reduzindo a evolução para hipertensão e complicações como infarto e AVC”, destaca.

 

O coordenador do internato de clínica médica do IDOMED, Herberth Mendes, reforça que o objetivo não é medicalizar de forma precoce, mas valorizar o diagnóstico.

“Esse valor acima de 12 por 8 não significa tratamento medicamentoso sempre. O paciente deve ser acompanhado quanto aos fatores de risco: se é sedentário, se fuma, se bebe, se tem diabetes ou colesterol alto. O 12 por 8 é mais um alerta para que ele se cuide mais, não necessariamente para que comece a tomar remédios”, explica.

 

Na Amazônia, as escolhas alimentares se tornam decisivas para a prevenção, principalmente diante do clima e dos hábitos culturais.



“Uma alimentação rica em sal está associada ao risco de desenvolvimento de hipertensão, assim como o consumo de alimentos gordurosos. Em dias de calor intenso, esse risco aumenta ainda mais, porque o organismo responde com picos pressóricos, sudorese e taquicardia. Por isso, recomendamos reduzir o excesso de sal e gorduras e manter a hidratação adequada, sempre com água”, reforça Herberth.

 

Outro ponto de atenção é a saúde feminina. Segundo Soté, a pressão alta pode surgir em diferentes fases da vida da mulher.

“A menopausa aumenta o risco pela perda do efeito protetor do estrogênio. Além disso, a sobrecarga de funções, como conciliar trabalho e casa, muitas vezes limita os cuidados pessoais. Em gestantes, a pressão alta pode levar à pré-eclâmpsia, com riscos para mãe e bebê”, alerta.

 

Já o diagnóstico precoce é consenso entre os especialistas.

“Quanto mais rápido eu diagnosticar o paciente, mesmo que ele só apresente fatores de risco, maiores são as chances de evitar a evolução para hipertensão. E, nos pacientes já hipertensos, o controle reduz complicações graves como AVC, infarto e insuficiência renal”, ressalta Mendes.

 

Mesmo com as mudanças, a prevenção continua sendo a melhor forma de combate. Priorizar água no lugar de refrigerantes, incluir frutas e verduras amazônicas e manter uma rotina simples de atividade física são medidas que fazem diferença no controle da pressão arterial.

 

“Substituir o sal comum pelo sal integral, trocar óleos refinados por óleo de coco ou banha bovina e valorizar temperos naturais da região em vez dos industrializados são escolhas simples e eficazes. Somado a isso, evitar o tabaco e reduzir o consumo de álcool são medidas fundamentais. E é essencial acompanhar a pressão regularmente, mesmo sem sintomas, utilizando aparelhos validados em casa ou nas unidades de saúde”, reforça Soté.