A Rádio e Televisão Anary Ltda – TV Anary Canal 07 – foi a primeira emissora de televisão a funcionar em Jaru com programação local. Inaugurada no dia 20 de dezembro de 1985, a empresa foi fundada pelo empresário Francisco de Assis Araújo, o Chico Araújo, político local ligado ao então PMDB, e, segundo consta, teve grande influência e liderança no Governo do Estado de Rondônia, ao qual chegou a pertencer na época do então governador Jerônimo Garcia de Santana (1934-2014), ocupando o cargo de Secretário de Estado do Meio Ambiente, por mais de três anos. Em sua fase inicial, A TV Anary teve em seu quadro os seguintes sócios: Chico Araújo, Antônio [sobrenome não encontrado pelo autor], Leonesto Cavasin e Nelson Carminatti.
A TV Anary era afiliada à Rede Bandeirantes de Televisão e, no fim da década de 1980, foi considerada como um grande marco no desenvolvimento do município de Jaru, pois além de fazer a publicidade dos estabelecimentos do comércio e serviços da cidade e da região, também inovou com a implantação de um editorial jornalístico, apresentando um programa local, com notícias e reportagens regionais e locais, uma vez que possuía uma equipe de produção de matérias internas e externas para serem noticiadas no programa. Esse noticiário tinha a apresentação do jornalista Eronildo Dutra Pereira.
Atualmente ocupando o cargo de diretor na Rádio Massa FM em Jaru, Ivanderlã Lélis Lima também atuou como funcionário da TV Anary em vários cargos, entre eles office boy, operador de VT e Diretor Administrativo. Feliz por fazer parte de uma importante página da comunicação local, Ivan, como é conhecido, estava presente no dia da inauguração do rádio e, ao lado de um colega de trabalho chamado Francisco participou da cobertura que marcou a inauguração da primeira estação radiofônica de Jaru.
Em entrevista concedida ao escritor Elias Gonçalves no ano de 2015, Nelson dos Reis Fernandes (1949-2018) que também foi funcionário da emissora relatou que para manter a programação própria no ar em plenos anos 1980 era um grande desafio, apesar de ser o único meio de comunicação com programação local na época, uma vez que a rádio ainda não havia se instalado na cidade. “A audiência era enorme, mas nem sempre o apoio correspondia à necessidade”, disse Reis à época da entrevista.
Gratidão
Sendo um dos sócios da Rádio e TV Anary, Francisco de Assis Araújo, atuava como Diretor Superintendente. Quando o assunto é a empresa citada, o empresário demonstra uma enorme gratidão pelas pessoas que, juntamente com ele, construíram uma importante etapa do primeiro canal de televisão genuinamente jaruense, bem como da primeira emissora de rádio local. Ao todo foram mencionados vinte e cinco nomes de pessoas que o ajudaram a tornar o legado da TV Anary como referência para muitos. Diversos profissionais que seguiram carreira na comunicação de Jaru ou foram para outros municípios começaram na emissora e alçaram novos voos sem se esquecerem do aprendizado obtido em suas origens. Mesmo após quase três décadas após deixar o município, Chico, como é conhecido, recorda com exatidão o nome e a respectiva função de cada um.
A chegada do rádio em Jaru
Em 28 de agosto de 1989, o empresário Chico Araújo, dá outro grande passo para promover o desenvolvimento local ao implantar a primeira rádio do município com a denominação de Rádio Jaru FM. O dia da inauguração foi marcado por grande festa com a presença de lideranças políticas e um show com a participação de vários artistas do cenário nacional. “Nesse show foram distribuídos muitos brindes com o patrocínio do comércio jaruense”, recordou Chico ao ser entrevistado pelo autor.
No dia seguinte, 29 de agosto de 1989, às cinco horas da manhã, acontece a estreia do “Viola Cabocla”, atração que permaneceu no ar até o dia 22 de agosto de 2018 com apresentação de Reis Fernandes. Devido ao falecimento do titular do programa ocorrido no dia 23 de agosto de 2018, faltando exatos seis dias para o 29º aniversário da atração, o programa passou a ser conduzido pelo radialista Valdemir Pereira até junho do ano seguinte e, em seguida, foi substituído por outra atração com o estilo musical que já estava consagrado no horário.
A equipe inicial da rádio Jaru FM (94.1) foi composta por Eron Dutra (radialista e diretor), Reis Fernandes, Jomar de Souza, o Jota Souza e Ely Nascimento. Diversos profissionais passaram pela emissora, sendo entres eles: Vladimir Zanata, Nill Duarte, Margarida Maria de Araújo, Claudete Dutra Pereira, Regina Quiovetti, Paulo Riet, Josiane Ribeiro, Acir Alves, Fabyo Brenner de Araújo, Saulo Araújo, Adão Soares, Raulino Conte de Souza, Amauri de Souza, Tadeu Itajubá, Magali Alves, Sandra Regina, Domingos Viana, José Aparecido da Silva, Flávio Silva, Alessandra Ferrari, Odair José, Hamilton Bernardes, Carlos Azevedo, Rosângela Souza, Cláudio Luiz, Anilson Rocha, Fábio Camilo, além do próprio Ivanderlã que, entre outras funções, foi locutor e Diretor Administrativo e Financeiro.
A programação da Rádio Jaru FM era recheada de atrações com músicas, informações, entretenimento, além de se difundir a política, a cultura e o esporte municipal. O saudoso Nelson dos Reis Fernandes, conhecido no meio radiofônico como Reis Fernandes, foi o pioneiro em apresentar um programa voltado para atender ao público caboclo. Grande entusiasta da chamada música caipira, comandou também o “Domingão Sertanejo na TV” que era exibido ao vivo e contava com duas horas de duração. O programa recebia talentos locais, violeiros, duplas e artistas em geral da região.
Embora, quando em vida, possuísse uma grande recordação do início da TV Anary em Jaru, Reis Fernandes começou a atuar inicialmente no rádio. Por ser amigo do então proprietário da emissora, Chico Araújo e, sabendo do lançamento da estação radiofônica, Reis decidiu apresentar a ele o projeto de um programa que propiciasse o devido valor à música sertaneja. No dia em que a rádio foi inaugurada, Chico Araújo fez um show em frente à TV Anary e na presença de aproximadamente três mil pessoas pegou um aparelho de rádio e deu um brado: “a 94.1 FM Estação Primeira está no ar!” O público reagiu de forma esplendorosa e aplaudiu o anúncio feito na ocasião, uma vez que a rádio estava em fase experimental há alguns dias. Os principais slogans da emissora de rádio foram: Estação Primeira, Rádio 10 da Cidade e por último Rádio Cidade.
Trabalho em equipe e seus resultados
Vladimir Zanatta começou a trabalhar na emissora em 04 de fevereiro de 1992 e lá permaneceu até ser admitido pela FM do Povo (hoje Plan FM) em 01 de janeiro de 1998. Zanatta atuou na televisão tendo a função de jornalista por aproximadamente seis meses e também como âncora do Telejornal Anary, além de apresentar programas musicais. Segundo relata, a TV Anary não contava com ponto eletrônico ou Teleprompter, como é conhecido o aparelho que fica acoplado embaixo da câmera e apresenta o texto a ser falado pelo apresentador, fazendo com que os desafios fossem ainda maiores. “Tínhamos que decorar a ‘cabeça’ da matéria (informações ditas antes de cada reportagem ir ao ar) ou ler na bancada”, recorda. Outra forma utilizada pela produção do telejornal era segurar um cartaz ao lado do visor da câmera, o que muitas vezes era perceptível pelo telespectador em casa, devido ao apresentador estar olhando para algum lado. Juracy Alves era o responsável pela produção e redação do telejornal e, junto com outros membros da equipe, fez um trabalho considerável no campo televisivo. O Telejornal Anary foi criado em 1994 e além de Vladimir Zanatta que o apresentava, tinha em sua equipe o repórter Hamilton Azevedo e o cinegrafista Mauro Bonfim.
Juracy Alves dos Santos chegou ao município no ano de 1989 para atuar exclusivamente na inauguração da Rádio Jaru FM e na empresa exerceu vários ofícios, entre eles operador de VT na televisão e locutor no rádio. No período compreendido entre 1989 e 1993, conforme recorda, trabalhou somente na rádio e depois atuou de forma decisiva na reativação da programação local da TV Anary, pois a mesma havia sido interrompida após a venda efetuada por Chico Araújo no ano de 1991. Aos sábados, Juracy Alves apresentava o programa “Clipe e Ação”, o que possibilitava à emissora atingir uma grande audiência graças à estratégia de programação conciliada com o retorno da publicidade ao meio televisivo jaruense.
Voltando ao período em que a empresa Rádio e TV Anary estava sob a responsabilidade do empresário Francisco de Assis Araújo, percebe-se que o mesmo era um tanto quanto futurista. Em tom nostálgico, Juracy Alves revela que a Jaru FM foi a primeira emissora de rádio de Rondônia a tocar um som digital e o feito aconteceu graças a uma viagem que Chico Araújo fez no ano de 1990 à cidade de Londres para participar de uma conferência ambiental. Ao participar do evento na cidade europeia, Chico comprou dois aparelhos que reproduziam CD’s e de forma aleatória adquiriu um CD duplo com as melhores canções do cantor Elton John. A primeira melodia tocada no meio radiofônico rondoniense, segundo Juracy Alves, foi a canção “Daniel” de Elton John e o feito aconteceu no programa Show da Manhã da rádio Jaru FM, à época ancorado pelo radialista Jomar de Souza. A escolha musical foi feita pelo próprio Juracy e representou um marco importante no meio radiofônico estadual.
Jaru FM se transforma em Rádio Cidade
Em 1991, quando vendeu o prédio da TV Anary, Chico Araújo alegou que o motivo seria devido a uma grande perseguição política. Na oportunidade o empresário passou a residir na cidade de João Pessoa (PB), mas a venda não se concretizou da forma acordada, o que, segundo ele, lhe causou alguns problemas, por se tratar de um patrimônio construído com bastante sacrifício. Com a venda do prédio da Rádio e TV Anary, Reis Fernandes assumiu a direção da rádio por algum tempo e, em seguida a empresa optou por substitui-lo por Itamar José Ferreira oriundo da rádio Caiari, em Porto Velho.
A venda das instalações da Rádio e TV Anary resultou em algumas mudanças estruturais e estratégicas. Uma delas, segundo Juracy Alves, diz respeito à forma como a rádio era conhecida em Jaru. Devido ao fato de ser o responsável pela produção de vinhetas, Juracy acabou relatando a Reis Fernandes, o então diretor da época, que havia uma grande dificuldade em produzir algo comercialmente viável com o nome Jaru FM. O relato de Juracy fazia sentido, uma vez que a maioria dos locutores se referia à emissora como a “rádio da cidade” e a sugestão foi justamente nesse campo. Reis disse que gostava da referência e com isso seria necessário pensar em um evento que, se feito com a devida habilidade, poderia se reverter positivamente.
A gincana Caça ao Tesouro
Era abril de 1992 e o processo que chegaria ao novo nome se iniciou no escritório da rádio através de uma conversa de bastidores entre Juracy Alves e Vladimir Zanatta. Foi então que surgiu a ideia de se fazer um evento chamado “Caça ao Tesouro” devido ao fato de ambos terem assistido na casa de Vladimir uma produção cinematográfica com a mesma temática. Conforme recorda Juracy, o município se transformou em uma “ilha”, onde de posse do mapa da zona urbana de Jaru, os idealizadores dividiram a cidade em quatro partes. Diversos enigmas foram criados e com o apoio de equipes que se deslocaram para vários lugares, era necessário descobrir gradativamente cada pista. A equipe que fizesse a descoberta deveria retornar à praça municipal, a base da competição, para substituir o outro participante que estava cumprindo algumas tarefas. As inscrições foram feitas quarenta e cinco dias antes, o que garantiu um tempo considerável para que os organizadores pudessem pensar em cada detalhe. Cinco grupos foram inscritos como participantes, mas havia ainda uma sexta equipe denominada “Os Piratas” que tinha como missão “dificultar” a descoberta das dicas inseridas em vários lugares. A concentração na praça e nos locais onde havia pistas foi intensa, movimentando assim o município no mitológico dia que representou uma importante página na história da comunicação jaruense.
Após juntar as quatro partes do quebra-cabeça, a equipe tinha o Mapa do Tesouro que a conduzia ao local onde encontraria a tão almejada descoberta. Era um barril muito bem enterrado contendo um envelope que apresentava uma frase com o novo nome da emissora: Rádio Cidade. Depois de cumprir a tarefa de forma completa os integrantes deveriam retornar à praça para apresentarem o resultado a todos. A equipe campeã recebeu um prêmio equivalente a dez salários mínimos, um valor considerável e bem-vindo em qualquer época.
O fim de uma era marcada por grandes conquistas
Em 1995, com a Rádio Cidade sob nova administração, Reis Fernandes trabalhou por algum tempo na então Rádio FM do Povo (hoje Plan FM) com a apresentação do Viola Cabocla. No ano de 1996, o apresentador é eleito vereador em Jaru, mas continua exercendo o seu ofício radiofônico de forma paralela às atividades parlamentares. Quando fazia parte do quadro de funcionários da FM do Povo, Reis chegou a participar também de algumas edições do programa “Jogo Aberto”. Porém, pouco tempo depois retornou à Rádio Cidade e lá esteve até os últimos momentos em que a empresa estava funcionando.
O radialista Anilson Rocha Oliveira iniciou a sua carreira no rádio jaruense através da Jaru FM em novembro de 1991 e permaneceu como funcionário até 20 de janeiro do ano 2000, data em que a emissora teve as suas transmissões suspensas. Anilson considera o período em que esteve como contratado da primeira emissora de rádio do município como um momento de muito aprendizado, pois significou o início de uma trajetória em que em alcançou grandes conquistas. O apresentador estava no ar com o programa Cidade em Trânsito, quando representantes da Agência Nacional de Telecomunicações, órgão ligado ao Ministério das Comunicações, compareceram à sede da rádio e lacraram os transmissores, impedindo assim a exibição de toda a programação. Além do Cidade em Trânsito, Anilson Rocha esteve à frente de outras atrações: a primeira delas era exibida no horário noturno e tinha o nome Romance na Cidade. Outro programa em que o comunicador criou e apresentou foi o memorável Almoço à Brasileira, uma das atrações a fazer história na Rádio Cidade.
O verdadeiro motivo que culminou com a saída da Rádio Cidade do ar é algo não conhecido totalmente pelos ouvintes que fizeram a emissora ser uma referência em muitos aspectos. Em seus últimos dias com a citada denominação, havia uma disputa envolvendo pessoas influentes, além de interesses políticos, o que fez com que a Anatel tivesse que agir com o objetivo de resolver o impasse relacionado à concessão. Muitas informações eram desencontradas e os funcionários que fizeram parte dos últimos momentos da Rádio Cidade pouco sabiam sobre o que realmente estava acontecendo nos bastidores. A televisão saiu do ar antes da rádio e o fechamento total da emissora foi uma surpresa geral.
Em termos históricos, a Rádio e Televisão Anary que, apesar do nome duplo era uma única empresa, soube dosar entre a ousadia e a inovação e com isso conseguiu surpreender positivamente o público que a via como uma referência, algo a ser lembrando por muitas gerações. O saudoso Reis Fernandes que teve um grande destaque na frequência 94.1 em todas as etapas das denominações lhe atribuídas quase que muda completamente parte da própria história e da comunicação jaruense. Lucilene Ugalde, viúva do apresentador e companheira de muitos anos confidenciou ao escritor Elias Gonçalves que, pouco tempo após chegar ao município de Jaru – o casal chegou em 1983, atendendo a um convite do gestor da época, Leomar José Baratella – Reis pensou em ser caminhoneiro para “cortar” o Brasil, mas conhecedora do potencial do marido no setor de comunicação, Lucilene aconselhou-o a trabalhar com Chico Araújo, pois, agindo assim, Reis faria o mesmo processo, mas através das ondas do rádio, como sempre ocorreu no que quase três décadas em que esteve “derramando alegria no seu rádio”, como o próprio fazia questão de frisar nas madrugadas de segunda a sábado nas ondas do rádio jaruense.
Por Elias Gonçalves
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