As duas médicas são casadas com brasileiros e atendiam em cidades de RO
A saída dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos, do Governo Federal, tem causado uma grande confusão na vida desses profissionais que, de uma hora para outra, foram obrigados a deixar o Brasil. Desde o dia o último dia 22, uma parte está saindo do Brasil com destino a Cuba.
Em nosso país, quase 8,3 mil médicos cubanos atuavam em diferentes partes do território nacional. Desses, em torno de 1,4 mil são casados com brasileiros e estão passando por um drama. Eles já não podem mais trabalhar; perderam a ajuda de custo para o aluguel dado pelas prefeituras das cidades onde trabalhavam e também não sabem se conseguiram ter o direito de exercer a medicina no Brasil.
Em Rondônia, algumas médicas cubanas estão passando por essa situação, onde a palavra que resume esse momento para essas profissionais é medo. A reportagem do Rondoniaovivo.com conversou com duas profissionais cubanas que atuavam na cidade de Ariquemes e possuem famílias no Brasil. Elas pediram para não serem identificadas e por esse motivo usaremos nomes fictícios nessa matéria.
Uma delas é Ana Rosa (nome fictício), que há cinco anos está no Brasil, onde se casou e trouxe seus dois filhos, nascidos em Cuba, para morar com ela, em Ariquemes. Na cidade, ela atendia em um posto de saúde.
“Meu marido é caminhoneiro e tenho uma estrutura de vida aqui no Brasil. Nós estamos preocupados com essa situação de ficar sem emprego. Hoje só sinto medo e insegurança com esse futuro incerto”, desabafa.
Para ela, o governo de Cuba tomou uma atitude precipitada ao se retirar do ‘Programa Mais Médicos’. O Ministério da Saúde cubano deixou o acordo com o Brasil, após as críticas do presidente eleito Jair Bolsonaro(PSL) em relação à forma como os médicos cubanos estavam sendo tratados pelo próprio país. Ele disse que esses profissionais eram trabalhadores escravos, pois Cuba não repassava o salário integral que tinham direito.
Ana avalia que a forma como o contrato entre o Brasil e Cuba foi interrompido foi muito brusca. “O governo cubano não nos avisou que iria acabar com o Mais Médico. Não nos perguntaram nada. Foi tudo muito rápido. Essa situação causou um tumultuo na vida de todos nós. Não se preocuparam se erámos casados ou não. Se tínhamos família”, lamentou.
Segundo a médica cubana, a forma como o dinheiro pago pelo Brasil a Cuba pelos profissionais era, de fato, desigual. Ela explicou que o salário total dos Mais Médicos é de R$ 10 mil, e ela recebia apenas R$ 2.976,00.
A médica contou que em Cuba a formação médica é voltada para a prevenção de doenças e que durante as consultas é valorizado o toque no paciente, a conversa e a empatia com eles.
Ana relatou que devido a essa forma de atender os pacientes, ganhou a simpatia da comunidade. “Tenho muita gratidão ao povo brasileiro. Meu pacientes, quando me encontram na rua choram e pedem para que eu fique. Isso me emociona muito”, afirmou.
A médica disse que está em processo de naturalização e que pretende estudar para fazer o Revalida que é o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de ‘Educação Superior Estrangeiras’ e caso seja aprovada, voltar a atuar como médica.
O Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira (Revalida) foi criado em 2011, em uma ação articulada dos Ministérios da Educação e da Saúde, para ampliar a revalidação de diplomas médicos obtidos no exterior. Essa prova garante ao profissional formado no exterior o direito de trabalhar como médico no Brasil.
Mais de oito mil médicos atuavam em todo território nacional e criaram laços no Brasil
“Para nós está difícil”
Outra médica cubana, Lana Rodriguez também se encontra na mesma situação, aguardando para saber se poderá ou não ficar no Brasil. Ele atendia com clínica geral, no distrito de Nova Califórnia, pertencente ao município de Porto Velho.
Assim como Ana, ela também é casada com um brasileiro e teme que não possa atuar no Brasil. “Para nós está sendo difícil. Muitos de nós que tiveram sair de uma hora para outra, foram obrigados a vender e se desfazer de coisas, por micharias. Eu concordo com o que disse o Bolsonaro de que estávamos recendo apenas 30% do nosso salário, mas esse valor era maior do que eu recebia em Cuba. Nós viemos para cá, sabendo desse valor e que o restante do dinheiro seria repassado para Cuba, onde é investido lá em saúde e educação”, disse.
Lana afirmou que no momento também está preparando para se naturalizar e fazer o Revalida. Porém, acrescentou, caso não dê certo irá retornar para Cuba onde diz ter emprego e casa própria. Quanto ao marido brasileiro ela foi enfática. “Já avisei para a família dele que se eu for para o meu país, ele vai junto”, finalizou.
A saída dos médicos cubanos do “Programa Mais Médicos” fez com que muitos retornassem para Cuba às pressas
Fonte:Rondoniaovivo
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