Mais de 3 mil presos já foram atendidos pela Associação Cultural e de Desenvolvimento do Apenado e Egresso de Rondônia

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Na oficina de cerâmica são produzidos vasos e utensílios Foto: Frank Néry

 

Há 26 anos trabalhando com a ressocialização de apenados do Sistema Prisional de Rondônia, a Associação Cultural e de Desenvolvimento do Apenado e Egresso (Acuda) desenvolve várias atividades com os presos do regime fechado dos presídios Vale do Guaporé, Ênio Pinheiro, e penitenciária Aruana.

São 100 reeducandos que participam das atividades, que vão desde cursos à fabricação de produtos para venda, como tapetes romanos e chilenos, peças em madeira (mesas, cadeiras, bancos e outros utensílios) e cerâmica, artes plásticas e esculturas, além de serviços como a oficina mecânica de veículos leves, funilaria e pintura, cursos de informática, música, corte e costura, crochê, lavanderia, salão de corte de cabelo, e ainda recebem atendimento odontológico, psicológico e terapêutico.

“Toda a produção deles é exposta para venda na loja [anexa à Acuda, na Estrada da Penal, próxima ao complexo penitenciário do Estado], em feiras e exposições, e estaremos inclusive participando da Rondônia Rural Show, em Ji-Paraná, no estande da Sejus e expondo nossos produtos no local”, conta o diretor.Segundo o diretor geral da Acuda, Rogério Araújo, o maior apoio financeiro recebido pela Acuda se dá por convênio com o Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Justiça (Sejus), e a matéria prima utilizada pelo projeto, como cola, verniz, selador, linha, barbante, cordas, parafusos, lixa, e outros materiais, é doada pela Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas (Vepema), contando também com o apoio do Conselho da Comunidade, da Vara de Execuções Penais (VEP), Ministério Público, e do grupo de voluntários que aplica o processo terapêuticos aos envolvidos.

Cerca de 20% do lucro da venda dos produtos volta para o projeto, para manutenção logística, e o que resta é dividido entre os apenados envolvidos por dia comparecido no projeto. “O lucro gera em torno de R$ 100 mensais para cada um, de acordo com os dias presentes”.

Os preços dos produtos fabricados e oferecidos na instituição são diferenciados e estão abertos à população. Um jogo de mesa e cadeiras de madeira, por exemplo, custa R$ 250, enquanto fora do local pode chegar até R$ 400. O serviço de alinhamento e balanceamento de um veículo leve feito na oficina do local custa R$ 40, enquanto fora da instituição a média de preço é de R$ 80. Há quase um mês, mais uma turma com 10 alunos participa do curso de mecânica, com aulas teóricas pela manhã, e práticas à tarde. A duração é de três a seis meses e os que se formarem poderão utilizar o conhecimento não só no projeto, como quando voltarem ao convívio social em liberdade.

 

TRATAMENTO FÍSICO E ESPIRITUAL

 

O escalda pés antecede à massagem realizada na clínica

 

Rogério Araújo enfatiza que as atividades terapêuticos fazem parte dos pilares do projeto Acuda, que é fundamentando em cinco quesitos: educação, vínculos afetivos, espiritualidade, terapêutico, e assistência. “Pela parte da manhã são desenvolvidas as terapias divididas em dois espaços, que são o salão e a clínica terapêutica, trabalhando meditação, massoterapia, Cone-chinês, Yoga, Reike, Cromoterapia, Bio dança, auriculoterapia, rodas de conversas, dança circular, cultos religiosos, Brahma Kumaris, escalda pés, banho de argila, encontros familiares, Gestalt terapia, psicoterapia, constelação familiar, eneagrama, e outras”, pontua.

De segunda a sexta-feira as atividades são intercaladas, das 7h30 às 17h30. Cada sexta do mês é destinada a uma atividade religiosa. Caso sejam flagrados com drogas, armas, celulares, ou cometam alguma agressão física, os apenados são excluídos do projeto. “O tempo de permanência no projeto varia, desde que o apenado esteja de acordo com a instituição”, esclarece Rogério. Já passou pela Acuda o total de 3.226 presos, e já há dois anos nenhuma fuga é registrada.



Rogério diz que os alimentos são doados pelo Projeto Mesa Brasil, que sempre entrega a comida para preparo no local, sendo servida diariamente no almoço para os apenados.

ATENDIMENTOS

 

 

Além do atendimento psicológico, os envolvidos no projeto tem a oportunidade de serem atendidos sempre que necessário pelo consultório odontológico instalado na Acuda, mas que também atende todas as unidades que não oferecem o serviço, que são a Aruana, o 470, Vale do Guaporé, Capep e Penitenciária Feminina, e ainda os adolescentes de todo o sistema socioeducativo durante as tardes. O consultório existe graças ao convênio entre a instituição e o Estado, sendo dever da Saúde estadual repassar os medicamentos de média e alta complexidade, e os materiais e medicamentos de baixa complexidade devem ser repassados pelo Município.

Para o reeducando Aldo José, 42 anos, o atendimento é muito importante. “Eu estava com dor e rapidamente pude ser atendido para resolver o problema”. Há 16 anos no regime fechado, ele diz que a Acuda é onde consegue cumprir a pena com mais dignidade. “Aqui a gente tem as atividades para ocupar a mente, não ficar só lá trancado pensando besteira, e terei a oportunidade de sair do sistema com a cabeça erguida”, completou.

O cozinheiro Alzimar Dantas, 34 anos, cumpre 13 anos no regime fechado, e diz que já passou por várias atividades, sendo o mais antigo dos participantes, há oito anos envolvido no projeto. “Já trabalhei na granja, na horta, na estufa, na atividade terapêutico e hoje sou também chefe de pátio. Antes de ser preso já fui açougueiro e chapeiro. Nunca vendi drogas, nunca roubei, e sempre trabalhei, mas a minha mente era criminosa, porque eu gostava matar. Se estivesse na rua já teria matado mais de 30 pessoas. A prisão e ter conhecido a Acuda foi um livramento”, afirma.

Alzimar diz que as terapias o ajudaram a mudar. “Eu sinto mudança em mim e em muitos colegas aqui. Ontem mesmo passei o dia chorando, pensando em quem eu era, em tudo que fiz de ruim, e quem sou atualmente. Tudo é um processo, e estar aqui faz com que eu perceba essa mudança em mim”.

CLÍNICA TERAPÊUTICA

 

 

Quem aplica as técnicas terapêuticas na clínica instalada na Acuda são os próprio apenados que já foram treinados e formados para a prática. Outros reeducandos que se interessam pelo processo de tratamento passam pela clínica, sendo oferecido para eles o horário matutino para receberem as técnicas.

O serviço também é aberto e gratuito para a comunidade, todas as tardes de segunda a sexta. A sessão pode ser marcada pelo telefone 3219-1202. São oferecidas a auriculoterapia, reike cromoterapia, escalda pés e reflexologia, e o cone-chinês. A loja fica aberta em horário comercial e os produtos podem ser adquiridos no local.

 

Fonte: Secom – Governo de Rondônia