Fechar poços é questão de saúde pública na cidade de Buritis, RO

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Fechar poços é questão de saúde pública na cidade de Buritis, RO

 

Na tarde de quinta-feira (22), uma polêmica tomou conta da cidade, uma reunião convocada para esta sexta-feira (23) pela prefeitura de Buritis para debater o fechamento de poços na cidade acabou sendo distorcida e gerou uma série de desinformação e dúvidas na população. Em grupos de WhatsApp a população afirmava que a empresa que fornece o abastecimento público de água no município iria fechar os poços, o que não é verdade. Em outras mensagens moradores falavam do uso de força para impedir o fechamento de poços.

 

A Águas de Buritis, empresa responsável pelo sistema público de abastecimento da cidade, foi uma das mais citadas nas redes, contudo, ela não é a responsável pela fiscalização ou pelo fechamento dos poços. A questão é de responsabilidade do poder público que deve garantir o acesso ao saneamento básico.

 

A reunião, que aconteceu na Associação Comercial e Industrial de Buritis (ACIB), teve como ponto de partida o Ofício do Ministério Público de Rondônia (MPRO) nº 000512/2025, da 1ª Promotoria de Justiça de Buritis, relacionado à Notícia de Fato nº 2024011300344187.

 

Entre os questionamentos do MPRO estão:

As medidas necessárias para a ligação dos usuários à rede pública de água, substituindo os poços individuais que, segundo apontam os estudos recentes, estão todos contaminados;

A possibilidade de firmar um Acordo de Cooperação Técnica com a empresa Águas de Buritis, com o objetivo de mapear imóveis que ainda utilizam fontes alternativas e ampliar a cobertura da rede pública de água.

Buritis foi um dos primeiros municípios de Rondônia a ter o acesso universal da água tratada, a instalação da infraestrutura começou do zero e hoje a cidade é uma das que mais investe em saneamento básico no estado, gerando, além de qualidade de vida para população, emprego e renda para o município.

 

O acesso à água potável é um direito básico e essencial para a saúde, e garantir seu acesso seguro é responsabilidade de todos: poder público, sociedade civil e cidadãos.

 

O Novo Marco do Saneamento obriga que o poder público garanta esse acesso de forma universal até 2033, sob pena de perder por exemplo recursos públicos. Atualmente parte da arrecadação da cidade vem de repasses do governo federal, além do governo estadual. Outro ponto importante é que garantir esse acesso ao saneamento básico reduz custos com saúde, seja do cidadão, que paga por exames e remédios e do poder público, que deixa de custear internações e leitos para doenças relacionadas ao consumo de água imprópria.

 

E, apesar do tema ter se tornado uma polêmica, a medida se trata hoje de uma questão de saúde pública: um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir) acendeu um alerta vermelho em Buritis (RO). A análise de amostras de água de 40 poços residenciais revelou um dado alarmante: 98% deles estão contaminados por coliformes fecais, incluindo a bactéria Escherichia coli, um indicativo direto de contaminação por fezes humanas ou animais.



 

A pesquisa, coordenada pela professora doutora Gisele Teixeira, avaliou três poços e uma amostra da rede pública de abastecimento em cada bairro da cidade. O resultado foi unânime: todos os bairros apresentaram poços contaminados.

“Em Rondônia nós temos um problema: como não temos saneamento básico de qualidade, as fossas ficam ao lado dos poços. Então, já se esperava um índice alto de contaminação”, explicou a pesquisadora na época da divulgação do estudo.

 

Água da rede pública é segura, mas população ainda prefere os poços

Apesar de Buritis contar com sistema de tratamento e distribuição de água, cerca de 60% da população ainda utiliza poços como principal fonte de abastecimento. A água fornecida pela rede pública, segundo o estudo, está dentro dos parâmetros de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

 

A preferência pelos poços, no entanto, representa um risco direto à saúde.

 

A contaminação por coliformes fecais pode causar doenças como:

  • ⁠ ⁠Diarreias e disenterias

  • ⁠ ⁠Hepatites virais

  • ⁠ ⁠Cólera

  • ⁠ ⁠Infecções intestinais diversas

Além disso, a pesquisa também identificou água contaminada em padarias, restaurantes e outros estabelecimentos que manipulam alimentos, o que amplia ainda mais o risco de surtos de doenças de origem hídrica.

 

Fechar poços: uma medida urgente e necessária

Diante dos dados, especialistas defendem que fechar os poços contaminados é uma medida urgente de saúde pública. A substituição do uso de poços pela água tratada da rede pública pode prevenir doenças, reduzir internações e melhorar a qualidade de vida da população.

 

Muitos moradores tentam tratar a água dos poços com cloro, mas, segundo o estudo, essa prática é ineficaz porque quase sempre é feita de forma incorreta.

 

A solução passa por investimentos em saneamento básico, algo que o município já alcançou, atualmente Buritis é uma das poucas cidades do estado que tem o sistema de abastecimento público universalizado, ou seja, toda população urbana da cidade tem a disposição água tratada e própria para o consumo.

 

O município hoje está em diálogo com a concessionária para o avanço nas obras de esgotamento sanitário, uma das pontas do saneamento básico.

 

Na reunião desta sexta-feira foram convidadas a sociedade e o poder público, além da Águas de Buritis. Uma das principais questões apresentadas foi o valor da ligação e algumas propostas serão encaminhadas pelo poder executivo ao MPRO. Atualmente a ligação à rede de água é parcelada em 60x na conta de água o que representa uma parcela de pouco mais de R$ 11 reais. Para pessoas de baixa renda cadastradas na base de dados do CadÚnico a ligação é gratuita.

 

A resposta da prefeitura de Buritis ao MPRO sobre o que o poder público fará para efetivar a ampliação do acesso à água tratada e o que fará para cessar o uso de poços na cidade deve ser feita em dez dias nos autos do processo da Notícia de Fato.

 

O caso pode levar a uma série de punições se as ações do poder executivo não forem consideradas satisfatórias pelo MPRO. Os desdobramentos se darão nos próximos meses.

 

 

 

Fonte: O Boto News