Ao longo de 50 anos, não houve barreiras que impedissem o Governo de Rondônia, por meio da Entidade Autárquica Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (Emater-RO), a ajudar os pequenos produtores a fazerem do campo, grandes negócios sustentáveis. A prestação de serviço chegava até as famílias de agricultores, mesmo quando as estradas e a comunicação eram desafios no Estado.
No dia 31 deste mês, a Emater comemora cinco décadas de contribuição com o desenvolvimento de Rondônia. E faz parte, junto com órgãos parceiros, de conquistas na agropecuária rondoniense, como: o 1° lugar como Estado produtor de leite da Região Norte e o oitavo maior do Brasil; o maior criador de peixe em cativeiro; o 5º maior produtor de café do país, o 2º maior da variedade conilon; e o 6º maior exportador da carne bovina. Além de se destacar em outras diversas culturas como a fruticultura e horticultura.
”Pra nós, ematerianos, é uma satisfação muito grande estarmos chegando a essa data comemorativa dos 50 anos. É meio século, bodas de ouro da nossa Emater, que tem contribuído muito com nosso Estado, desde 1971. É uma desbravadora, tendo sido responsável, junto com órgãos parceiros, por vários programas de assentamentos, que tornaram-se municípios, a exemplo de Colorado e Ouro Preto do Oeste. E ao longo desta trajetória, passou por transformações importantes, tanto jurídica quanto tecnológica”, diz o diretor-presidente da Emater, Luciano Brandão.
Com 15 anos como empregado da Emater, Luciano destaca o orgulho de viver esse momento histórico da instituição no cargo mais alto da autarquia. Ele também é o primeiro representante de Rondônia a assumir o cargo de vice-presidente na Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer).
Luciano Brandão é natural de Vilhena, mas foi criado em Colorado do Oeste. Aos 15 anos ingressou em um colégio agrícola. Formou-se em técnico agrícola e em 2005 tornou-se médico veterinário. ”Me inscrevi no processo seletivo da Emater. De mais de 30 concorrentes, tive o sucesso de passar em segundo lugar”.
Inicialmente ficou lotado como técnico no escritório de Alvorada do Oeste e, em 2011, assumiu a gerência local. A partir de 2015, passou a ser regional do Vale do Guaporé. E em 2017, foi homenageado como extensionista destaque. No Governo Marcos Rocha, em 2019, foi convidado para ser o diretor-presidente da Emater. ”Assumi esse cargo vindo de Deus e estamos aqui a disposição para a fazer com que a Emater se torne ainda mais forte”.
COLONIZAÇÃO
Para entender o significado da trajetória da autarquia, é preciso voltar às origens. A Emater é mais antiga que a própria criação do Estado e atuou em um momento importante da história de colonização de Rondônia. O extensionista rural, José Edny de Lima Ramos, de 72 anos, lembra bem de cada fase dessa história. Ele, que é natural da Paraíba, chegou a Rondônia em junho de 1979. ‘‘Zé’’, como é conhecido, conta que inicialmente a Emater era a Acar-RO, Associação de Crédito e Assistência Rural.
Só mais tarde, em 1976, tornou-se a Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia (Aster-RO). Em 2013, passou a ser Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (Emater-RO) e em 2016 transformou-se em Entidade Autárquica. Mudanças não só de nomes, as novas denominações são consideradas importantes por fortalecer autonomia jurídica e orçamentária em prol do aperfeiçoamento de ações de assistência aos pequenos produtores.
O público assistido pela autarquia é o que desenvolve atividades rurais com base familiar, em módulos de até 240 hectares. São extrativistas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais e assentados, maioria na época da colonização.
O trabalho da Emater foi um verdadeiro amparo para famílias de agricultores que chegavam a Rondônia oriundos de vários estados do país no final da década de 1970 e início dos anos 1980, o que José Edny classificou como a maior epopeia de inclusão social. “Gente que deixou seus locais de origem e ajudaram Rondônia a crescer”.
O próprio extensionista se identifica com essas histórias. Afinal ele fez o mesmo, veio a Rondônia quando ainda tinha 31 anos. Formado em engenharia agrônoma, queria trabalhar e, por incentivo de amigos que já moraram na região, apostou que o Estado seria um bom lugar para ter oportunidade, e foi. ‘‘Faria tudo de novo, nossa alegria é ver como a Emater tem contribuído para o desenvolvimento de Rondônia e ver aqueles pequenos agricultores que moravam em barracões, agora sendo grandes produtores, se estabeleceram, tem filhos formados e estão felizes com que conquistaram’’, conta.
Simples, de trato amável e atento a dar valor social a cada missão da Emater, José Edny, não esconde o orgulho de ter a maior parte da vida dedicada a dar assistência a famílias de agricultores. Ele passou os primeiros cinco anos no Estado na regional da Emater de Ariquemes, depois ficou mais três anos em Ji-Paraná. Em 1986, os trabalhos passaram a ser em Porto Velho. Em 1987, foi trabalhar na Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri) e de 1989 a 1991, no Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Estado de Rondônia (Iperon). Depois, retornou à Emater onde permanece até hoje. Atualmente, está lotado na Gerência de Planejamento e Informações (Gepin).
O extensionista rural acompanhou o desenvolvimento de Rondônia, deixando de ser Território Federal e passando a ser Estado, em 1981. Também esteve presente em um dos momentos históricos para os rondonienses, a inauguração da pavimentação da BR-364. ‘‘Tirou Rondônia do isolamento’’. Aliás, estradas eram um dos desafios do Estado.
No começo, os produtores tinham dificuldade até de chegar até o lote rural, pior ainda era para escoar a produção. José conta que tinha acessos que os próprios extensionistas tinham que ir a pé porque o carro não passava. E quando o veículo quebrava na estrada, sem comunicação, o jeito era pegar carona nos caminhões carregados de tora de madeira para voltar para casa. ‘‘Quando a gente pedia carona, já sabia da resposta: só se for lá atrás com as toras. A gente subia com um medo danado, torcendo para aqueles cabos de aço não se soltarem’’, recorda.
O extensionista conta que as necessidades para os produtores também eram enormes no passado.‘‘Tinha dificuldade de acesso, de comunicação, de escoamento, de comercialização, não tinha uma infraestrutura mínima. Eles eram acostumados com biomas diferentes, outros tipos de explorações agrícolas. Trouxeram mudas dos locais de origem e teve iniciativas deles que deram certo, aliadas aos incentivos do Governo de Rondônia e também do Governo Federal’’.
A Emater sempre andou lado a lado com o desenvolvimento do setor agropecuário. ‘‘Nós da Emater fazíamos o levantamento das demandas nas áreas ambiental, social e econômica. Éramos capacitados para dar respostas, eu mesmo participei de muitas capacitações. Fazíamos aquilo que é nosso trabalho, as orientações quanto a assistência técnica e extensão rural. Dávamos incentivo, apoio e acabamos nos tornando muito próximos dos produtores’’, conta José Edny.
Uma desses produtores foi Francisco Alexandre da Fonseca, natural do Ceará. José o acompanhou de 1979 a 1989, uma década que o fizeram amigos. ”José é um funcionário exemplar, estava na propriedade até aos finais de semana e feriados, orientando”, disse Alex Júnior da Fonseca, filho de Francisco.
No começo, Francisco, que se estabeleceu em Ariquemes, apostou no cacau, depois no plantio de seringueiras, café, até que os negócios começaram a dar certo com a criação do gado. Ele faleceu em 2010, e Alex está a frente dos negócios, que além do rebanho, investe no plantio de milho.
Alex conta que a propriedade é uma das poucas da época da doação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) mantida com a família de origem. ”Meu pai trabalhou na roça e depois como as coisas eram muito difíceis no Ceará, ele procurou por trabalhos braçais na cidade, até que encontrou em Rondônia a chance de ter a uma propriedade rural. Gostava do Estado e nunca quis ir embora. No começo era tudo muito difícil, não tinha energia, o carro quebrava e a gente tinha que dormir na estrada, e nem sabia como produzir, mas a Emater foi ensinando. Quando você segue os ensinamento, evolui”, conta Alex que hoje tem 1,5 mil cabeças de gado, lavoura de milho e emprega 10 pessoas de forma direta.
EVOLUÇÃO
As dificuldades enfrentadas pela Emater no atendimento aos produtores foram ficando no passado. As estradas estão em melhores condições, a comunicação é instantânea e a presença da Emater em todo o Estado cresceu. O extensionista se orgulha da interiorização da entidade, cada vez mais próxima dos produtores. Na época que José Edny chegou ao Estado havia 12 unidades operacionais. O Estado só tinha sete municípios. Agora, são 85 unidades operacionais distribuídas nos 52 municípios.
O trabalho continua, a missão é a mesma, mas a Emater se tornou mais forte e o Estado mais próspero com as riquezas do campo. ‘‘A Emater é a instituição que tem mais condições de desenvolver política pública voltada para o setor agropecuário e o Governo do Estado tem dado todo o apoio necessário para desenvolver o trabalho. Tem serviços prestados de qualidade. É uma Emater moderna e interiorizada’’.
A tecnologia, segundo Luciano Brandão, agora é uma das marcas do trabalho da Emater. ”Nesta gestão, estamos implantando tecnologias. Lançamos algumas plataformas digitais, pois não tem como os pequenos produtores fugirem da revolução cibernética. Lançamos o aplicativo Minha Emater e há cerca de 60 dias, a Capes, que é uma plataforma lançada para capacitação dos nossos técnicos e produtores rurais. E já tivemos mais 1,2 mil produtores capacitados. Além do sistema de gerenciamento de Ater, Sigater, de monitoramento de todas as nossas ações de Assistência Técnica e Extensão Rural, dando condições de intervir de forma precisa nas necessidades de cada propriedade”, afirma o diretor-presidente da Emater.
Mas a Emater não perdeu sua essência, de estar lá, dentro das propriedades rurais, olho no olho com a família do campo, seja para orientar como produzir com mais qualidade, seja como agregar valor ao que é produzido, agora, munidos de mais precisão tecnológica para auxiliar em tomadas de decisões, ou mesmo para um conversa, um desabafo entre amigos.
”Nada substitui o técnico dentro da propriedade e, ao longo desses anos, construímos credibilidade por meio de uma parceria sincera. Tem vezes que o produtor nem está precisando de orientação técnica, mas de uma conversa, e nós trabalhamos não só a parte ambiental, econômica, mas também a social, considerada uma das parte mais brilhantes do nosso trabalho. Muitos extensionistas nossos são padrinhos de casamento ou de filhos de produtores, temos filhos de produtores que, por admirarem o trabalho da Emater, estudaram e entraram para Emater. A Emater faz parte da vida do produtor e o produtor faz parte da Emater. Em meio ao trabalho árduo deles, estamos auxiliando para que as propriedades sejam transformadas economicamente, ambientalmente e socialmente”, diz o diretor-presidente.
Brandão cita ainda importantes iniciativas do Governo de Rondônia que tem fomentado a agricultura familiar, a exemplo do Plante Mais com distribuição de mudas, o “Mais Calcário” para correção do solo, o “Governo no Campo” para investir na infraestrutura porteira para dentro, e o Programa de Verticalização da Pequena Produção Agropecuária do Estado de Rondônia (Prove-RO) para agregar valor as produções. Já são mais de 500 agroindústrias e os produtos são expostos na feira realizada todo final do mês no estacionamento do Palácio Rio Madeira. Uma vitrine da excelência da produção do campo.
O diretor-presidente da Emater considera exitosa a trajetória da Emater e pontua que a autarquia seguirá desenvolvendo políticas públicas para que o Estado tenha cada vez mais produções sustentáveis.
Fonte
Texto: Vanessa Moura
Fotos: Ésio Mendes, André Cortez, Irene Mendes e arquivo de família
Secom – Governo de Rondônia
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