A História da Música em Jaru: Juca & Marquinhos – Banda Swing & Country

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Juca & Marquinhos se apresentando no Country Bar em Porto Velho – 1992

 

Natural de Palmitópolis (PR), Marcos Roberto da Silva, o Marquinhos da antiga dupla jaruense Juca & Marquinhos, começou a se identificar com a música por volta de 1979, aos seis anos de idade, graças ao apoio incondicional de seu pai, Antônio Olímpio da Silva. Fiel aos princípios familiares, Marcos credita parte do seu envolvimento com a música devido à genialidade da ação paterna.

Conforme recorda, inicialmente se apresentava em eventos religiosos realizados na Comunidade São João Batista, em Jaru, além de festivais e comícios, as chamadas reuniões políticas que eram feitas nas ruas da cidade e que contavam com a participação de artistas locais e nacionais, às vezes, denominadas como showmícios. O trabalho era bem recebido pelo público e com isso havia um incentivo a mais para que Marcos seguisse avante no ofício, aprovado desde o início pelo pai. Marcos se apresentava de forma solo em algumas oportunidades e, em outras, ao lado do irmão José Carlos da Silva, o Juca, com quem futur amente formaria dupla e faria um grande sucesso.

O início da carreira

Inicialmente o dueto Juca & Marquinhos cantava de forma amadora, mas quem entendia de música percebia que os cantores poderiam ir além. A questão “amadora” durou até por volta de 1988, quando Marcos completou 15 anos e, Juca, o seu irmão, 17. O ano em que Marcos comemorou o décimo quinto aniversário representou uma mudança radical na carreira da dupla Juca & Marquinhos e tudo começou por meio de uma apresentação que eles fizeram na barraca que João de Souza Rocha, o popular Negativo, possuía na Expoaja daquele ano. À época, o evento havia contado com a participação de um harpista de Porto Velho chamado Hilário Ovelar, mas conhecido no meio artístico como Juanito. O músico portovelhense, único harpista do Estado desde 1983, se encantou com o talento da dupla e convidou Marcos para se apresentar com ele, mas devido à parceria já existente com o irmão, Marquinhos, como já era conhecido, só concordaria se José Carlos da Silva (o Juca) também fizesse parte do convite.

A chegada à Capital Rondoniense

A condição dada por Marcos foi prontamente aceita por Juanito e, em pouco tempo, o trio já estava se apresentando em Porto Velho e em outros municípios rondonienses. A dupla jaruense se hospedou na casa de Juanito por cerca de noventa dias ininterruptos para a realização de ensaios e outros preparativos relacionados aos shows e depois retornou a Jaru em uma parceria que se iniciou em 1988 e durou aproximadamente um ano e meio. Por volta de 1990, com a ida de Juanito para Campo Grande (MS), Juca & Marquinhos passaram a se apresentar no formato originalmente concebido. As apresentações seguiram adiante, porém com um detalhe facilmente percept&i acute;vel: agora a dupla havia se profissionalizado e a procura por agendas se intensificou. Nesse período houve a entrada de alguns músicos, entre eles Pedro Martins e Osmar de Carvalho (ambos baixistas). Em 1994, o tecladista Evandro de Jesus começou a trabalhar em conjunto com Juca & Marquinhos em uma parceria que chegaria ao ano de 2016. Outro músico que também chegou a participar foi o cantor Mário que, posteriormente formou um dueto com o irmão Marquinhos.

Juca & Marquinhos na década de 1990

Em 1994 Juca & Marquinhos marcavam presença em eventos apenas com repertório de outros cantores do cenário nacional e se consolidaram através de apresentações feitas em clubes, bares e outros palcos do gênero. O projeto inicial seria gravar uma obra musical somente com canções do cantor e compositor Moacyr Franco, devido ao fato do mesmo ser amigo de infância de Cleomildo de Melo, um empresário que a dupla conheceu em Porto Velho durante o período de estadia na Capital rondoniense. O ano era 1995 e o projeto que poderia se transformar na primeira gravação estava sendo idealizado. Tudo caminhava para um desfech o agradável para ambas as partes, mas um acidente ocorrido em 07 de fevereiro de 1997 entre Itapuã do Oeste e Porto Velho (ambos municípios rondonienses) teve como consequência a morte de José Carlos da Silva, o Juca. Outras pessoas que estavam no veículo também foram atingidas, mas todas sobreviveram. Abalado com a tragédia, Marcos fez uma pausa de aproximadamente sessenta dias e depois continuou a atender as agendas já definidas antes do acontecido, agora com a participação de Anildo da Costa, o Nill e Evandro que já estava com a dupla desde 1994.

Reconhecimento público após uma grande perda

Embora José Carlos faça parte de uma importante página da cultura jaruense, o primeiro reconhecimento por parte de um órgão público só aconteceria quatorze anos após ele deixar a vida terrena. A homenagem começou através de uma iniciativa do também músico Gilberto Fernandes Neves e aprovação no Poder Legislativo por meio de uma indicação do então vereador Mirley Emanuel dos Santos. Em 29 de março de 2011, após a aprovação da Câmara Municipal, o prefeito da época, Jean Carlos dos Santos, sancionou a Lei Municipal 1494/GP/2011 que denominou o Centro de Convenções de Jaru com o nome José Carlos da Silva. A obra, localizada à Linha 605 nas proximidades da BR-364, foi inaugurada em 13 de dezembro de 2012. No local, além de eventos municipais, há ainda um espaço destinado à Biblioteca Municipal, entre outras atividades direcionadas à população jaruense.

Uma nova etapa na carreira musical

Com a morte de José Carlos da Silva, houve a criação da banda Puro Country ainda no ano de 1997. Porém essa nomenclatura permaneceu somente por alguns meses. Devido à variedade de ritmos musicais tocados em todos os lugares onde estavam, os participantes viram a necessidade de alterar o nome e optaram por Swing & Country, por associar-se a vários tipos de músicas, sejam elas sertanejas, dançantes, entre outras que faziam sucesso à época. O público aprovou a mudança, pois era algo que na prática já identificava os cantores em Jaru e Região.

Swing & Country: surge uma banda já consagrada

A banda Swing & Country gravou várias canções no formato single. As músicas falavam de amor, romance e possuíam um ritmo bastante convidativo para quem gosta de dançar. Muitas ainda tocam nas emissoras de rádio em vários lugares do estado, mas uma canção de autoria de Marcos e Nill se eternizou na memória local. Trata-se de “Serra, Serra”, composta em 2004 como resposta ao que anos depois passaria a ser denominado como bullying, o “sofrimento” causado por pessoas de outras cidades por um simples fato, visto por alguns como uma lenda. Marcos recorda que muitas pessoas elogiam a banda em suas apresentações, mas ao descobrirem o local de residência dos cantores indagavam em tom de ironia questionando onde estaria o lendário motosserra. Uma pessoa comum certamente ficaria “indignada” com a situação, mas alguém do meio artístico pensaria em uma forma de utilizar algo supostamente negativo a seu favor. Foi aí que surgiu a ideia de se compor uma música que revelasse a importância da cidade, mesmo em meio a um mito criado ainda nos anos 1980.

Bullying se transforma em sucesso



A composição da música “Serra, Serra” veio como uma espécie de réplica ao fato de Jaru ser conhecido como “terra de doido” praticamente em todo o Estado e caiu no gosto do público devido ao ritmo, mas principalmente por causa da letra simples e direta. A canção traz um sentimento de nostalgia ao utilizar algumas figuras de linguagem para contar a história do município, incluindo suas belezas, seus encantos e seu povo guerreiro e trabalhador. Sabedores da influência da letra na vida das pessoas, os compositores aproveitaram a oportunidade para mandarem uma mensagem de conscientização sobre o perig o das drogas. A última parte do refrão enfatiza que “antes doido trabalhando, que vagabundo cheirador”.

Confira a letra da canção Serra, Serra:

Eu venho de lá de cima
Da terra de doido eu sou
Se você quer entender
Te explicar, eu vou
Jaruense com orgulho
De corpo alma e coração
Vem pra cá você também
Endoidecer de paixão

Sabe Deus como é que foi
Que isso tudo começou
Jaru era ainda menina
Indiazinha pura em flor
Estado novo Rondônia
De beleza sem igual
E pra quem mora na fazenda
Trabalho é de sol a sol

Serra serra na roça
Motosserra nas costas
É por aí que se tem
Que serrador bate bem
Eu passo o dia serrando
Se isso é ser doido seu doutor
Antes doido trabalhando
Que vagabundo cheirador

E essa moda foi pegando
Cidade dos doidos venha e veja
Pois quem “tava” criticando
Já passou na “sertaneja”
Deixou pronto o orçamento
Que já foi pra mais de cem
O que você tá esperando
Vem ficar “crazy” também.
Se nesse país tão grande
De tanta terra e riqueza
Poucos têm muito sobrando
Muitos têm nada na mesa
Minha terra tem de sobra
Fartura e não tem pobreza
Seu moço eu sou “mutcho doido”
Sou de Jaru com certeza.

Nill e Marquinhos. Serra, Serra.
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O primeiro CD da banda Swing & Country foi gravado em 2002. Produzido no estúdio do tecladista Evandro serviu como um referencial na longeva carreira que estaria por vir. A banda sempre foi muito requisitada em eventos e já esteve presente em Mato Grosso, Amazonas e Acre. Além do nome do município de Jaru, seus integrantes buscam levar alegria e descontração em todos os lugares por onde passam. A segunda obra fonográfica foi gravada em 2007 e foi composta apenas de regravações anteriores. Desde 1998, ano de sua criação, em várias oportunidades, a Swing & Country foi eleita como a melhor banda de Jaru através de pesquisa de opinião pública elaborada pelo Instituto Ângulus Pesquisas e Eventos, uma empresa sediada em Umuarama, no estado do Paraná.

A publicação da série “A História da Música em Jaru” está sendo possível graças a uma parceria entre os principais sites do município e o escritor Elias Gonçalves Pereira. Os textos serão publicados de 13 de maio a 06 de junho de 2019, data em que o escritor lançará nas dependências da Associação Comercial e Industrial de Jaru, o livro “Um Tratado sobre a Música, a Literatura e a Comunicação Jaruense”. A obra conta com 262 páginas e faz uma cobertura de meio século no campo historiográfico local dentro da temática contida no t& iacute;tulo.

As reportagens serão publicadas na seguinte ordem:
01. Destaques das décadas de 1970 e 1980 – 13/05/2019
02. Juca & Marquinhos – Banda Swing & Country – 14/05/2019
03. Pescador & Garimpeiro – Diamante & Garimpeiro – 15/05/2019
04. Jorge Faccini – 16/05/2019
05. Jenival Silva – 17/05/2019
06. Geoni e Geonito – 20/05/2019
07. Idair Ferreira – 21/05/2019
08. Marcos Paulo & Claudney – Banda Los Arcanjos – 22/05/2019
09. Dalberto & Darnel – 23/05/2019
10. Márcio & Messias – Banda Flash Music – 24/05/2019
11. Mário & Marquinhos – 27/05/2019
12. Eder & Eder – 28/05/2019
13. Divas Diogo – 29/05/2019
14. Heliane Markes – 30/05/2019
15. Arllan Cardek e Banda Maria Juana – 31/05/2019
16. Gilson Fagner – 03/06/2019
17. Banda Country Music / Albatroz – 04/06/2019
18. Beto Neves – 05/06/2019
19. Banda Pelô Art – 06/06/2019

Fonte: Elias Gonçalves


Fotos: Arquivo Pessoal: Marcos Roberto da Silva e João de Souza Rocha
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