Vídeo: Locomotiva volta a funcionar após duas décadas parada em Porto Velho

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Locomotiva volta a funcionar após duas décadas parada em Porto Velho

 

A locomotiva Maria Fumaça Nº 18 será reativada nesta quinta-feira (2), durante as comemorações dos 111 anos de Porto Velho. Depois de mais de 20 anos parada, ela voltará a circular no Complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), com seu tradicional apito e fumaça. 

 

Na noite de quarta-feira (1º), o secretário de Turismo de Porto Velho, Aleks Palitot, divulgou um vídeo mostrando a locomotiva em funcionamento. Nas imagens, o trem aparece se movimentando e soltando fumaça (veja acima). 

 

De acordo com a Prefeitura de Porto Velho, a Maria Fumaça estava sem rodar há quase 30 anos. A última viagem aconteceu em 1999. 

 

À Rede Amazônica, o prefeito Léo Moares explicou que, por enquanto, a locomotiva percorrerá cerca de 40 metros até o pátio central. Depois de passar por ajustes, poderá operar em segurança, mas ainda sem levar passageiros. 

 

“A gente está aqui na expectativa, ao mesmo tempo com certa apreensão, mas com otimismo de que a nossa Maria Fumaça sair daqui não somente a pitar, não somente sair a fumaça pela caldeira, mas se deslocar até o pátio central, que eu acredito ser o ápice, o fato mais importante da celebração dos 111 anos da nossa cidade”, disse. 

 

A reativação faz parte de um projeto da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), iniciado em maio deste ano. Técnicos de vários estados participaram do trabalho, que contou também com peças trazidas de diferentes regiões do país. 

 

O engenheiro mecânico Marlon Ilg, president

e da ABPF, contou que muitas peças tiveram de ser refeitas porque foram furtadas. O principal desafio, segundo ele, foi organizar o cronograma em pouco tempo. 

“A gente precisou fabricar peças do zero e montar um cronograma apertado, mas em 40 dias conseguimos avançar e temos confiança de que no dia 2 a locomotiva vai estar funcionando.” 



 

História da “Ferrovia do Diabo” 

A construção da EFMM teve início após o Tratado de Petrópolis, assinado em 1903, quando o Brasil incorporou o território do Acre, até então pertencente à Bolívia. A ferrovia foi projetada para escoar a produção de borracha da região. 

 

Em 1907, engenheiros e operários estrangeiros chegaram à Amazônia para iniciar a obra, sob liderança do engenheiro norte-americano Percival Farquhar. A presença internacional era tão marcante que o inglês se tornou o idioma oficial do canteiro de obras — desde ordens de serviço até cardápios de restaurantes e o primeiro jornal da cidade, o The Porto Velho Times. 

 

A EFMM consolidou Porto Velho como ponto estratégico durante o ciclo da borracha, por estar no último trecho navegável do Rio Madeira. A cidade atraiu comerciantes estrangeiros e casas aviadoras. 

A construção, no entanto, foi marcada por condições extremas. Centenas de trabalhadores morreram vítimas de doenças tropicais como malária, febre amarela e pneumonia, além de enfrentarem conflitos com povos originários como Karipuna e Mura. O alto número de mortes rendeu à ferrovia o apelido de “Ferrovia do Diabo”. 

 

Para atender os operários adoecidos, foi construído o Hospital da Candelária. Próximo dali, surgiu também um cemitério com o mesmo nome. 

Apesar dos desafios, a ferrovia foi inaugurada em 1912. Em pouco mais de cinco anos, os trilhos e a própria cidade de Porto Velho, foram erguidos “com suor e sangue”. 

 

Com mais de 360 km de extensão, a EFMM ligava o porto de Santo Antônio, em Porto Velho, ao de Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia. Hoje, restam apenas vestígios da antiga ferrovia. 

 

A administração brasileira só assumiu o controle da EFMM na década de 1930, após o processo de nacionalização. A ferrovia teve lucro por apenas dois anos, devido à queda da produção nacional de borracha, pressionada pela concorrência asiática. 

 

Após 54 anos de operação, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi desativada. 

 

 

Por: g1/RO