Mycael: conheça o goleiro do Athletico convocado pela Seleção
Jovem de 18 anos acumula convocações na base e tem títulos do Sul-Americano sub-15 e sub-20. Cria do Furacão, Mycael foi promovido ao time principal neste ano
Mycael, 18 anos, foi uma das novidades na convocação da seleção brasileira, a primeira após a Copa do Mundo do Catar. O goleiro do Athletico acabou lembrado por Ramon Menezes, treinador interino enquanto a CBF não define um substituto de Tite. O atacante Vitor Roque foi outro atleticano chamado.
O jovem goleiro estará com o Brasil no amistoso diante do Marrocos, em 25 de março. O duelo acontece no Estádio Ibn Batouta, na cidade de Tânger, no norte do país africano.
Foram convocados 11 atletas que estiveram na Copa do Catar e nove jogadores que nunca tinham sido chamados para a seleção principal: o goleiro Mycael, o zagueiro Robert Renan, o lateral Arthur, os meio-campistas André, Andrey Santos, João Gomes e Raphael Veiga, além dos atacantes Rony e Vitor Roque.
A data Fifa de março vai de 20 ao 28, permitindo a realização de dois jogos. Porém, a CBF optou por disputar apenas um amistoso. Os atletas serão liberados logo após a realização do jogo contra Marrocos.
Natural de Porto Velho, o jogador chegou ao Furacão em 2018, com 14 anos. Promessa do CT do Caju, o goleiro tem experiência com a amarelinha e diversas convocações para as seleções sub-15, sub-16, sub-17 e sub-20.
Pelo Brasil, ele conquistou o Sul-Americano sub-15 em 2019 e o sub-20 em 2023. Nas duas campanhas, foi decisivo.
Em alta, ele foi promovido para o time principal no início da temporada e disputa com Léo Linck, também formado no clube, como segundo goleiro.
O contrato de Mycael com o Furacão vai até março de 2027.
Mycael, assim, surge como novo candidato em manter a tradição do Athletico de formar grandes goleiros. Neto (Bournemouth), Guilherme (Lokomotiv Moscou), Santos (Flamengo) e Bento (titular do Furacão) são alguns exemplos deste século.
O próprio CT rubro-negro é uma homenagem a Alfredo Gottardi, o Caju, que vestiu a camisa do Athletico entre 1933 e 1950. O goleiro foi primeiro jogador de clube paranaense a ser convocado para a seleção brasileira.
Vale lembrar também que os goleiros dos dois ouros olímpicos do Brasil estavam no Athletico: Weverton, no Rio-2016, e Santos, em Tóquio-2021.
Com 12 anos, ele teve a primeira chance de participar de uma peneira do Furacão. O campo do CFA foi palco para atletas da cidade correrem atrás de seus sonhos. Mas ainda não era o momento dele. Apesar de ter atraído os olhares do professor Ferreira, foi outra promessa rondoniense que passou nos testes: Arielson, atacante da base do Cruzeiro.
A segunda oportunidade foi quando o pai de Mycael trabalhava como motorista de um supermercado da cidade. Na ocasião, Moisés pediu a liberação para o seu chefe e pegou a sua motocicleta para levar o filho para a avaliação novamente no Aluizão.
Mycael passou por um período de avaliações em Curitiba, retornou à Porto Velho e ainda realizou outros dois testes em grandes clubes: Grêmio e Flamengo. O Athletico, então, manteve o goleiro em sua formação.
Aos 16 anos, ele assinou o seu primeiro contrato profissional após se destacar.Mycael quebrou recordes com o Furacão e se tornou o jogador com mais convocações nas categorias de base da seleção.
A relação com Bernardo, vítima do Ninho do Urubu
Na base do Athletico, o goleiro conheceu um amigo que o acompanha em todo jogo. Mycael usa uma camisa por debaixo do uniforme com o rosto de Bernardo, morto no incêndio no Ninho do Urubu, que completou quatro anos em janeiro.
A história dos dois amigos se inicia em 2017, quando jogavam no Trieste, time amador de Curitiba que tinha parceria com o Furacão. Vindo de Rondônia, Mycael morou por dois anos com Bernardo e sua família.
Quando a dupla completou 14 anos se mudou para o CT do Caju. Enquanto Mycael segue no Athletico até os dias atuais, Bernardo se transferiu para o Fla na ocasião. No mesmo ano, em 2019, ele faleceu com outros nove meninos, entre 14 e 17 anos, no CT do time carioca.
– Logo que cheguei em Curitiba, na casa do Trieste não tinha espaço e minha família não tinha condição financeira de sair de Rondônia para morar em Curitiba. A família do Bernardo abriu a casa, sem custo, para morar com ele. Isso que disputava a mesma posição com o filho deles – contou.
Darlei Pisetta, pai de Bernardo, contou que sua família já tinha acolhido outros jovens atletas em sua casa. Contudo, eles não deram certo no Furacão e acabaram dispensados.
– O Mycael veio para cá e pediram para a gente acolher ele também. A conexão com a gente foi desde o início. Ele é muito humilde e ficava fascinado com as coisas de Curitiba. Cinema, pizzaria. A gente tinha ele como da família mesmo.
Pisetta conta que, na época, comprava os mesmo presentes para os dois. Nos dias atuais, apesar da distância, o contato segue mantido com Mycael e sua família.
– Ele e o Bernardo eram coisa de irmão. Uma conexão muito forte. Os dois se ajudavam na escola, no próprio treino. O Bernardo era o titular, mas tinha muito medo de perder a posição para o Mycael, porque considerava ele muito bom e pegador de pênaltis. A relação deles era muito bonita. O Bernardo é um amuleto para o Mycael e está sempre junto com ele.
O incêndio do Ninho do Urubu ainda não teve punições aos supostos responsáveis. Das 10 vítimas, apenas a família do goleiro Christian Esmério não fez acordo e discute judicialmente com o Flamengo.
Em junho do ano passado, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) conseguiu junto ao Tribunal de Justiça estadual (TJRJ) que o caso seja analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). As pensões para famílias dos mortos foi extinta em dezembro de 2020, e agora o STF pode retomá-las.
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