Com baixa visão, professor da rede estadual é exemplo de superação em Rondônia

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Com apenas quatro meses de idade, Carlos Reni Dias de Melo, sofreu uma forte crise febril que desencadeou vários problemas oftalmológicos. A febre fez aparecer uma fibrose que encapou o nervo óptico, atrofiando o desenvolvimento da visão, além da presença de uma torção no referido nervo e uma lesão na retina. Mas isso não o impediu de sonhar e realizar seu grande desejo de ser professor. Com 51 anos, Carlos conduz a disciplina de Física há 19 anos e leciona aulas para estudantes do Ensino Médio na capital de Rondônia.

 

Vindo do Rio Grande do Sul, seu estado natal, chegou a Porto Velho para assumir o ofício. Quando ainda era criança, o médico que o acompanhava estava determinado em realizar um procedimento que removeria os olhos temporariamente a fim de massagear o nervo, e por conseguinte, tentar distorcê-lo para que tivesse mais chance de desenvolver a visão, mas, infelizmente, a cirurgia não aconteceu.

 

Carlos enxerga em torno de apenas 30% em ambientes luminosos, fazendo com que a claridade dificulte bastante sua rotina. Ele ainda relata que não conta com uma acuidade normal – capacidade de compor detalhes e perceber objetos minúsculos muito próximos entre si – o que dificulta a atividade que requer leitura, tendo que recorrer ao uso da lupa, instrumento que amplia as imagens.

 

“Ficou até difícil para trabalhar na plataforma remotamente, uma vez que a tela tem toda aquela luminosidade com letrinhas tão pequenas. Para poder enxergar eu tenho que ampliar muito, mas quando faço isso, eu perco tela e não consigo trabalhar, dificulta bastante”, pontua o professor.

 

No ambiente de sala de aula, ele relata que não há muitos problemas, isto porque suas aulas não são realizadas na área externa. De acordo com ele, a luminosidade natural atrapalha sua visão, o que não acontece em lugar com luz artificial. “Eu estou ali sempre com meus olhinhos fechados por causa do desconforto que a luz natural gera, já em ambiente mais escuro eu não sinto tanto, é bom para mim”, comenta.

 

Quando foi abordado sobre sua expectativa pelo futuro, ele comenta que não imaginava ser professor. Carlos relata que sua família, em especial a mãe, tinha muita preocupação, pois ele quando jovem estava entregue totalmente às dificuldades, achando que não teria chance alguma de se autodeterminar, cuidar de si, da vida e do destino. Na época, ele pensava que teria que depender de alguém para ajudá-lo, porque até a opção de trabalhar, julgava ser difícil.



 

Então assim, durante muito tempo, estava desanimado e considerava que partir para a busca de um benefício da previdência seria solução. Quando era novo, ele tinha uma convicção formada que sua vida não ia dar certo e isso o destruiria como ser humano, pois não foi para isso que ele veio ao mundo. Foi então que se ergueu e rejeitou a ideia, pois, segundo ele, não queria carregar o resto da vida esse fardo e se considerar incapaz.

 

“Eu me considero uma pessoa virtuosa. Não queria ser um inválido, eu não me vejo assim. Foi aí que eu pensei, isso não pode acontecer. Eu sou capaz, eu vou me autodeterminar, eu vou ganhar a vida, eu vou trabalhar e eu vou achar algo para fazer até para minha vida ter sentido, ter significado e ser interessante”, expõe.

 

Para Carlos, ser professor é uma profissão que requer muita teoria e isso facilita muito, porque a aula é mais expositiva, utilizando muito a fala, a comunicação, e não tanto a visão. O que fez ele ver um caminho de sucesso, para que possa exercer a atividade com desenvoltura, eficiência e competência, sem desembaraço.

 

Ao citar sua relação com os alunos, ele discorre, “os alunos brincam muito comigo, mas de maneira sadia. Nunca nenhum aluno foi maldoso comigo, eles sempre foram politicamente corretos”, ri, deixando claro que os estudantes sabem dos seus problemas. De acordo com professor, quando está deslocando de uma sala para outra, todo mundo percebe a dificuldade. Mas destaca: “Os alunos me classificam como um professor rígido (mas no bom sentido), pois eu exijo muito para que estudem, se esforcem e eu faço isso porque quero o bem deles, quero que se tornem profissionais excepcionais”.

 

Aproveitando a oportunidade, ele dá conselho para as pessoas que tem dificuldade semelhante ou igual e quer realizar um sonho. “Você que se julga incapaz de fazer uma atividade, repense essa ideia porque sempre existe um caminho possível para trilhar. Na vida, não há uma única porta, pode haver várias outras das quais é possível entrar. Quando pensar que algo é impossível, já fale para si ‘alto lá’, é possível sim. Por aqui e por ali eu não vou conseguir, mas por lá com certeza eu consigo”, conclui.

 

 

 

Fonte

 

Texto: Emanuelle Pontes

Fotos: Esio Mendes

Secom – Governo de Rondônia