Ataque a base da Funai mostra que crime organizado manda em espaço que seria do Estado, diz coordenadora do Cimi

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Declaração foi dada pela coordenadora do Cimi em Rondônia, Laura Vicuna, nesta sexta-feira (11). Prédio destruído em Rondônia está na terra indígena mais ameaçada do país.

 

Por G1 RO

Operação da PF foi realizada em junho deste ano. — Foto: PF/Divulgação

 

O ataque a uma base da Fundação Nacional do Índio (Funai) dentro da terra indígena Karipuna, em Rondônia, mostra que o “crime organizado” manda em um espaço que pertence ao Estado brasileiro, disse nesta sexta-feira (11) Laura Vicuna, coordenadora local do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

O caso foi revelado pelo G1 na última quinta-feira (10).

“É uma orquestração do crime organizado que age impunemente naquela região. Eles colocam fogo e depredam tudo que é espaço público que seria de proteção isso para dizer ao estado brasileiro, para dizer que quem está no comando hoje, infelizmente, é o crime organizado e o estado se faz de cego, ou não age de forma suficiente para coibir essas ações criminosas contra os territórios, contra os povos indígenas e contra o meio ambiente”, disse.

Laura está no Vaticano, onde participa do Sínodo da Amazônia. O Sínodo é uma assembleia convocada pelo Papa Francisco que objetiva escutar e manter um diálogo com os povos indígenas da Amazônia. Cerca de 50 lideranças indígenas, incluindo as de Rondônia, participam do evento, que se estende até 27 de outubro.

O imóvel destruído em Rondônia –estado mais ameaçado por queimadas no Brasil– deveria ajudar a evitar ataques criminosos à terra indígena. Ele foi construído pela empresa Santo Antônio Energia, como contrapartida pela construção da usina Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho.

O prédio foi entregue em 2016 e custou R$ 750 mil, mas quase não foi utilizado. De acordo com os Karipuna e o Cimi, fiscais chegaram a trabalhar nos primeiros meses daquele ano no posto, porém, os recursos acabaram, e o prédio ficou abandonado.

De acordo com Laura, desde 2017, denúncias são feitas nas polícias Civil e até Federal sobre os ataques contra os Karipuna, como por exemplo, as ameaças de morte.

Conforme um relatório feito pelo Cimi, foram registrados 109 casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio” dentro das terras indígenas da Amazônia em 2018. No ano anterior, foram 96. Houve ainda aumento no número de assassinatos registrados (135) em 2018, segundo o relatório.

SOS Karipuna

Em junho deste ano, a Polícia Federal deflagrou duas operações na terra indígena Karipuna para desarticular organizações criminosas suspeitas de grilagem e comércio ilegal de madeira na região.

Operação da PF foi realizada em junho deste ano.  — Foto: PF/Divulgação

Operação da PF foi realizada em junho deste ano. — Foto: PF/Divulgação



Posicionamento de Sérgio Moro

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse nesta manhã que há problemas e carências em vários setores, além da TI Karipuna.

Sérgio Moro em Fórum de Investimentos Brasil 2019    — Foto: Reprodução/TV GloboSérgio Moro em Fórum de Investimentos Brasil 2019    — Foto: Reprodução/TV Globo

Sérgio Moro em Fórum de Investimentos Brasil 2019 — Foto: Reprodução/TV Globo

 

“Pode haver carências específicas em um local x, em um local y ou numa base… Mas isso acontece também em outros setores. Nós temos, por exemplo, problemas de recursos humanos na Polícia Federal e na Polícia Rodoviária Federal que estamos buscando resolver”, disse o ministro em entrevista durante evento em São Paulo.